A URGÊNCIA DE VIVER O PRESENTE

Um dia perguntei à minha amada bisavó, Maria Angélica (carinhosamente chamada pelo nosso lado da família de Vovó Dindinha):


“Ô, vó, 100 anos de existência terrestre, hein? Comé qui é isso?”.


Não demorou um segundo e ela falou enquanto estalava os dedos das duas mãos:


“Passô assim, ó!”


“Passô assim, ó.” Maneira mineira de falar que explica o quão rápida é a vida e o quão urgente é a necessidade de viver o presente. Sua resposta me fez pensar na brevidade da existência. É como se fosse um “simples” – e coloque aspas nisso – lampejo de luz e consciência frente à imensidão infinita e massiva do universo. Eu nunca esqueci esse momento com minha bisa, assim como nunca esquecerei vários outros. Se existir vida do lado de lá, eu espero reencontrá-la.

Em um certo dia da minha vida numa certa circunstância – não consigo precisar nenhum dos dois – eu escutei a seguinte frase de alguém igualmente inidentificável:

Você se lembra apenas do que viveu.”

Simples, direta e mais clara que o sol: aproveite o presente.

viver o presente
O presente…

AS DUAS VIDAS

Portanto, penso: existem dois tipos de vida e todos os seres conscientes têm estas duas. A do presente, que é incapturável, é breve como a totalidade da vida, efêmera como esta. Ao mesmo tempo em que ela é, ela já deixou de ser. É o eterno devir do presente.

A outra vida é a do passado. Ela (a vida) também acontece ao rememorarmos as experiências que vivemos. Desde que comecei a me entender por gente, eu sempre via “os adultos” vivendo o presente rememorando o passado. “Lembra daquela vez…?”… “E na faculdade quando a gente…”… “Aquela viagem foi boa demais…”… “Tempo bom aquele, pena que não volta.”. Hoje eu já me pego fazendo a mesma coisa. Vivemos para rememorar e rememoramos para viver.

O presente nasce e morre incessantemente num círculo vicioso. A urgência de vivê-lo é tão grave e intensa quanto a urgência em que ele nos deixa.

O passado se acumula e marca presença física e psicológica até o dia em que encaramos a nossa própria morte.

O futuro não existe, concretamente falando. É mero produto de especulação. Além do quê, o futuro está condenado desde “o início” a ser sempre presente.

“VIVA O PRESENTE”

Sempre escuto ou leio esse conselho, “viva o presente”… Mas afinal de contas, como é que se deveria viver o presente? Existe uma maneira de domá-lo, de estendê-lo? Um dia, assistindo a uma palestra, vi a seguinte frase projetada na parede:

“Não podemos acrescentar dias a nossa vida, mas podemos acrescentar vida aos nossos dias”.

Bela frase, não? Mas existe um manual, nem que seja um esboço, para fazermos isso? Ou essa é uma habilidade conquistada com o tempo? É complicado atendermos a essa urgência de viver um presente incapturável e efêmero em meio a uma rotina desgastante de trabalho, estudos e frente aos mil obstáculos e sofrimentos que a vida nos impõe. Mas de alguma maneira devemos seguir em frente buscando adicionar vida aos nossos dias.

Eu gostaria de ter o manual citado acima. Publicá-lo-ia aos milhões e gratuitamente os cederia aos interessados. Mas não tenho. Na verdade ninguém o tem, pois o mesmo inexiste.

Eu poderia agora afogá-los em clichês, em imperativos motivacionais ou de autoajuda para que você descubra como apreciar verdadeiramente o seu presente, mas farei outra coisa.

Um dos primeiros textos do Blog da Cria de Minas (que republicaremos em breve) falava da relação entre um famoso discurso de Steve Jobs e a realidade do cotidiano da maioria das pessoas. Aproveitando o tema e a ocasião, eu transcrevi determinado fragmento do discurso e o usarei como meu primeiro palpite para ao menos tentarmos viver melhor o presente:

“Lembrar de que em breve estarei morto é a mais importante ferramenta que encontrei para me ajudar a fazer as grandes escolhas da vida. Porque quase tudo – expectativas externas, orgulho, medo do fracasso – desaparece diante da morte, que só deixa aquilo que é importante. Lembrar de que você vai morrer é a melhor maneira que conheço de evitar armadilha de achar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.”

Steve Jobs

Conscientizar-nos de que um dia vamos morrer pode ser a melhor ferramenta para refletirmos sobre as escolhas e a vida que levamos no dia a dia. Conscientizar-nos de que um dia deixaremos essa vida pode nos ajudar a aproveitar mais o instante.

E cabe aqui uma reflexão que eu julgo ser muito importante também para aproveitarmos melhor o nosso presente, sobretudo nos dias de hoje em que as mídias sociais fazem a vida das (outras) pessoas parecerem um roteiro de filme perfeito. No início, no meio e no final das contas, nós sentiremos falta mesmo é dos dias comuns…

Pra quem ficou curioso, essa não é a Vovó Dindinha. Essa é a Maria Aparecida, a Vovó Cida, filha da Dindinha.

MAS, AFINAL DE CONTAS, COMO VIVER ENTÃO O PRESENTE?

E aqui vai meu segundo palpite. De fato não há como estender ou aumentar (intensificar) a sensação de captura do presente. Infelizmente, isso é por si só efêmero. O que dá pra fazer – e o que eu te digo que você deveria tentar – é reconhecer o valor dos dias comuns:

as partidas de buracos com seus avós, os almoços em família, os jogos de tabuleiros com os primos, as férias na roça, as viagens com meia família aglomerada num carro só, o cafézin nos fins de tarde com parentes, o cinema num meio de semana nada a ver e por aí vai… Reconheça o valor desses e outros momentos que você tiver com quem você gosta, porque qualquer dia desses, querendo ou não, vai ser o último, hehe.

E no final das contas, dando tudo certinho, você vai ter criado com essas vivências o que temos de mais valioso, talvez, nessa vida (e que nos acompanha até o fim, invariavelmente): nossas memórias.

Acredito que viver o presente seja isso. E também tentar, AO MÁXIMO, seguir seu coração – mesmo que ele tenha um pouco de pressa. Ser fiel e verdadeiro consigo mesmo. Ser, de certa maneira, urgente.

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